domingo, 26 de novembro de 2006

Crítica 'Da Terra à Lua (1865)'

Júlio Verne é, sem dúvida, um dos maiores nomes da literatura mundial do século XIX, sendo suas principais obras permanentemente relançadas em novas edições, em diversos idiomas e países. Segundo a crítica, o estilo de Júlio Verne conseguiu associar a literatura fantástica do Romantismo de segunda geração (Byron, Poe), mas com muito menos morbidez, com o cientificismo da literatura Real-Naturalista (em português, representada por Aluízio de Azevedo e Eça de Queirós). Dessa fusão entre dois estilos aparentemente antagônicos, Verne iniciou a literatura denominada "Ficção Científica", que explora a narração de temáticas fantásticas, criativas e, principalmente, não-convencionais do ponto de vista da sociedade, sob uma forte fundamentação das leis científicas conhecidas na sua época.

Todavia, se Júlio Verne produziu obras-primas como "Viagem ao Centro da Terra" e "A Volta ao Mundo em 80 Dias", certamente não se pode dizer o mesmo de "Da Terra à Lua". Aqui, a fundamentação científica da narrativa é demasiadamente predominante, rompendo o equilíbrio entre "Fantástico" e "Científico" que deu ao autor toda a sua fama mundial e o seu lugar de honra na história da literatura de ficção. A quase ausência de acção, assim como a extrema irrealidade do enredo (uma sociedade privada de ex-combatentes da Guerra Civil Americana resolve construir um mega-canhão para dar um tiro na Lua, por iniciativa unilateral e arrecadação de recursos próprios, e um intelectual meio louco francês pede para ir junto com o projéctil), acaba por tornar o livro um tanto monótono, o que o diferencia muito dos demais textos do autor.

Chamam a atenção no livro a analogia a teorias da época que hoje não seriam aceitas como "científicas", já que se voltam muito mais para a filosofia e a metafísica do que para a observação empírica da natureza e da realidade, e são essas teorias que dão um fundamento lógico para a empreitada dos personagens. Por exemplo, vemos, citado pelo próprio personagem principal Miguel Ardan, o princípio na inexistência de não-utilidade. Segundo essa curiosa teoria metafísica, nada no Universo é inútil, não há desperdícios naturais. Portanto, a vida não pode ser desperdiçada no Universo, o que faria com que todos os astros tenham condições ideais para a vida humana. Obviamente, sob a luz da ciência contemporânea, tais princípios são quase piadas, e praticamente toda a engenharia realizada pelos personagens seria fracassada.

Contudo, é inegável o mérito de Júlio Verne de ter imaginado a possibilidade de o homem chegar à Lua, e até ter proposto um meio para alcançar esse objectivo, a cerca de 100 anos antes de o homem ter conseguido de fato chegar lá.

Crítica escrita por Ricardo Agostini, autor do blog Essa Metamorfose, e cedida gentilmente para o blog JVernePt.

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