terça-feira, 26 de agosto de 2008

Artigo - Como Jules Verne conquistou Portugal (2ª parte)

Continuação do artigo 'Como Jules Verne conquistou Portugal' cuja 1ª parte foi aqui colocada no dia 14 de Agosto.

2ªParte

Em 28 de Novembro de 1896 morre David Corazzi, que se contava “entre os homens de mais iniciativa em o nosso paíz”… “vitimado por uma lesão cardíaca”.

No artigo em baixo, aquando do falecimento do editor, que se contava “entre os homens de mais iniciativa em o nosso paíz”… “vitimado por uma lesão cardíaca”, é explicado a novidade em 1889 (1884, como se vê impresso, não pode deixar de ser um lapso), ano em que surgiu o aparecimento da Companhia Nacional Editora (e do seu monograma), “Sucessora de David Corazzi e Justino Guedes”.
Acrescentamos que o “sindicado” era dirigido pelos próprios David Corazzi e Justino Roque Gameiro Guedes, que compravam com a mão direita o que vendiam com a esquerda.

Artigo necrológico da revista O Occidente, de 28 de Novembro de 1896, por ocasião do falecimento de David Corazzi, assinado pelo gravador Caetano Alberto.

No ano seguinte, 1890, a Administração da Companhia Nacional Editora, abandonou as velhas instalações e mudou-se para o Largo do Conde Barão, 50. A tipografia (agora também da CNE) permaneceu na Rua da Rosa.
Sete anos depois, A Companhia Nacional Editora, agora administrada unicamente por Justino Guedes, continuará a publicação da obra de Verne, a partir de “O Castello dos Cárpathos”. Nesta data, também a sua tipografia se encontra no Largo do Conde Barão.
Em 1899, o topo das páginas de rosto da “Grande Edição Popular” tornou-se igual ao da “edição de luxo”: apenas “Viagens Maravilhosas”.
Mas a frase por extenso, “Grande Edição Popular Das Viagens Maravilhosas Aos Mundos Conhecidos e Desconhecidos” reaparecerá (em 1911?).

Surge dois anos antes da morte do autor francês, em 1903, o desaparecimento do nome de Justino Guedes que coincide com nova transformação da razão social: simplesmente “A Editora”, ficando as páginas de rosto privadas do habitual monograma do Editor… até 1908, quando foi reintroduzido na forma actualizada.

Logotipo de A Editora

A partir de 1911, os romances de Jules Verne aparecem agora numerados nas listas publicadas em frontespícios e em contra-capas de brochuras.
A numeração (que atingia, por então, o nº 75) correspondia à ordem de primeira publicação dos títulos na “edição de luxo” – com excepção dos quatro primeiros volumes de “As Grandes Viagens e os Grandes Viajantes”, que foram avançados até se juntarem aos dois últimos volumes dessa obra (pois não tinham sido consecutivos).

No ano seguinte, o catálogo (introdução em baixo) publicado com o romance nº 79, “O Pharol do Cabo do Mundo” prometia a continuação até ao nº 85… mas essa numeração, prosseguida por outro Editor bem diferente (Livraria Francisco Alves/Livraria Bertrand) em 1937, só comporta mais três volumes, 80, 81 e 82.
Na “edição de luxo”, não conhecemos qualquer título posterior a “O Soberbo Orenoco” (nºs 73 e 74).
(Note-se que a publicação de apenas mais três volumes, até ao nº 85, seria por certo insuficiente para abranger o que faltava das “obras completas”, que o catálogo prometia).

Introdução com a promessa de 85 volumes.

A meio dos anos 20, mais propriamente em 1926, entrou em actividade verniana um novo editor, herdeiro das Horas Românticas, da Companhia Nacional Editora, e de A Editora (que afinal fora sempre o mesmo, que se ia transformando): uma complicada associação de associações multinacionais, que melhor se compreenderá vendo a reprodução (abaixo).
Esta associação de Editores, que pouco produziu (e apenas repetindo), imprimia os romances de Jules Verne na tipografia da Empresa do Diário de Notícias, ou na Imprensa Portugal-Brasil.

Retirado de uma obra de 1927 (no ano anterior, as colunas dos Editores estavam invertidas, esquerda/direita).

Em 1934, a Livraria Bertrand isolou-se da Livraria Aillaud, e, até 1938, será a associação Livraria Francisco Alves (Brasil)/Livraria Bertrand (Portugal) que publica os volumes nºs 80, 81 e 82 (dando enfim parcial cumprimento ao prometido pela “A Editora” em 1912).

A obra de Verne estava longe da publicação completa em Portugal (ainda hoje o está), mas estes oitenta e dois volumes representam o mais importante e coerente conjunto entre nós erguido à glória do romancista genial.
Uma nova associação luso-brasileira (Livraria Bertrand (Portugal)/Editora Paulo de Azevedo, Lta (Brasil)) reimprimiu algumas obras isoladas, e, em 1956, lançou a reedição “de acordo com a moderna ortografia” de todos os títulos, 1 a 82.
Para os jovens leitores de então, teria sido, em tom menor, a repetição do experimentado pelos seus bisavós de 1874.

Na forma, mantém-se as características da Grande Edição Popular de 1886 – com uma nova capa de F. Bento.

Continua...

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